quinta-feira, 29 de março de 2012

Echoes do The Wall

Não é necessário mais tecer elogios e observações sobre o show pirotécnico que foi o The Wall, de Roger Waters/Pink Floyd, no Beira Lago, domingo último.
Aliás, o que li na grande e pífia mídia foram resenhas e mais resenhas impressionadas com o tamanho do telão, com a beleza dos bonecos, o perfeito timming britânico atrasado em virtude da desorganização da entrada do público, essas coisas...
Bueno, beleza, realmente foi imenso, incrível, mas, sério, o que importava era o conteúdo de tudo aquilo.
Mas, claro, ninguém dentro do PRBS, em sã consciência, por exemplo, teceria uma construção de pensamento lógico sobre a temática do show - porque seria um soco em seu próprio estômago.
Roger Waters destruiu o capitalism way of life, brick by brick, tijolo por tijolo, de maneira lógica, se utilizando de fatos, foi fundo na subjetividade de um sistema absolutista, que gera violência e desigualdades - não, ele não deixou de lado os cutuques em regimes ligados à esquerda política, mas, por opção, The Wall é uma reflexão sobre a realidade a qual seu autor está inserido que vai além, muito além, inclusive, das visões políticas. E não é de hoje, não foi para esta turnê. É assim desde princípios da década de 1970, trazendo o ponto de vista da banda sobre as causas e efeitos de um sistema perpetrado e sofrido pelos ingleses.
Não, na grande e pífia mídia ninguém teceria sem chamar de enfadonho linhas sobre os porquês de grafar a palavra "capitalism" com a fonte da coca-cola.
E por quê? Porque são another bricks in the wall, pois sim.
Agora, a grande reflexão é exatamente esta: como não ser parte desse muro se vivemos num mundo que compele constantemente e nos azeita pra encaixar nas engrenagens perfeitas da rotina?
Você pode até ter consciência, opiniões fortes, visões progressistas, mas sua vida muitas vezes o obriga a seguir um caminho constituído para você - não por você.
E isso acontece insconscientemente, quase ao natural, e ninguém deve ser condenado por viver dessa forma.
Então, a obra The Wall serviria como uma metáfora necessária para se abrir os olhos, se entender o que se está vivendo e, já de posse dessas informações e reflexões, passar a usufruir do livre arbítrio na própria vida.
Incrivelmente, 40 anos depois, Roger Waters trouxe uma mensagem atualíssima, sem grandes atualizações.
Quer dizer, nem tão incrível assim, quem conhece o legado de Karl Marx entende os porquês de estarmos onde estamos e sabe para onde a sociedade está rumando.
Incrível mesmo é a multidão de patos achando o máximo o megaevento sem entender que aquilo é o esfregar da realidade em suas caras.
O que fazer?
Hmmmmmm, não sei, mas sei que algo há de ser feito...

Dá pra começar assistindo com bastante atenção ao filme The Wall novamente:

2 comentários:

Luciano Barbian disse...

Concordo com o teu post.

E pra mim o ponto alto foi a homenagem e a dedicatória feitas em português perfeito a Jean Charles de Menezes. Waters disse que o show era dedicado ao Jean, a família dele na luta por Verdade e Justiça. E também a todos os mortos pelo Terrorismo de Estado os quais sempre serão lembrados.

Têmis Nicolaidis disse...

Incrível! Um show que vai ecoar pra sempre em mim. Depois de assistir o the wall, sugiro que a gente vá prestando atenção nas pequenas coisas. Como tratamos um estranho na rua, como enxergamos e vivemos com as diferenças. Ampliar a nossa tolerância e, também, ser pavio curto frente as barbaridades que cruzam na nossa frente todos os dias. É difícil olhar para nós mesmos, nos questionar e nos reinventar. Não será mais difícil ignorar?